Glenn Ross Switkes (1951-2009)

Date: 
Tuesday, December 22, 2009

Glenn in Patagonia
Glenn in Patagonia
International Rivers está de luto pelo falecimento do diretor de seu programa para a Amazônia Glenn Switkes, um amigo querido, colega respeitado, e batalhador de inesgotável paixão pelos rios. Glenn faleceu em 21 de dezembro, em um hospital de São Paulo, por complicações decorrentes de um câncer de pulmão, aos 58 anos.

Glenn era um homem de rara integridade, imenso senso de humor e grande tino político. Ele servia de inspiração e professor aos defensores dos rios, e era uma verdadeira pedra no sapato de políticos e burocratas que destroem os rios. Homenagens emocionadas estão chegando à International Rivers da parte de ativistas do Brasil, América Latina e todo o mundo.

Glenn dedicou a maior parte dos últimos vinte anos de sua vida à causa da proteção dos rios da América do Sul, em especial os da Amazônia, contra a construção de barragens e canais de navegação.

Nascido em Nova York em família de trabalhadores, Glenn estudou história na Universidade de Columbia e cinema na Universidade da Califórnia, em Berkeley.  Era ainda estudante quando trabalhou com Randy Hayes e Toby McLeod em seu primeiro filme, o premiado “Four Corners: A National Sacrifice Area?”. O filme mostra a depredação decorrente da mineração em territórios de povos ameríndios e de deserto no sudoeste dos Estados Unidos.

Glenn foi à Amazônia pela primeira vez a pedido de sua primeira esposa, a colombiana Monti Aguirre. Inspirado pela beleza da região, a cultura e sabedoria dos índios locais, e horrorizado com os impactos causados pelo desmatamento e construção de barragens, Glenn realizou com Monti o premiado documentário “Amazônia:  Vozes da Floresta”. O Washington Post descreveu o filme como “um alerta global sutil. . . .. falando mais de educação do que de destruição,  (o filme) permite que diversas vozes sejam ouvidas, não apenas dos exploradores e dos explorados mas, de maneira muito sutil e eloquente, as vozes da própria floresta amazônica, que revela-se a um tempo exuberantemente rica e impiedosamente devastada".

O filme foi patrocinado pela Rainforest Action Network. Após a realização do filme, Glenn juntou-se à RAN, atuando em sua campanha contra a exploração de petróleo na Amazônia Ocidental.

Glenn entrou para a International Rivers Network em 1994. Junto a sua segunda esposa, Selma Barros de Oliveira, ele se mudou para o Mato Grosso para ajudar a montar uma coalizão para salvar o sistema fluvial Paraguai-Paraná, e sobretudo o Pantanal, a maior área alagadiça tropical do mundo, da ameaça de um imenso projeto de canalização. A coalizão multinacional Rios Vivos se tornou um notório exemplo de sucesso na formulação e implementação de estratégias por ONGs. A vida selvagem do Pantanal, bem como a economia tradicional, turística e agrícola da região hoje encontram-se preservadas e vibrantes graças ao êxito de Glenn e da Rios Vivos no combate ao projeto da hidrovia.

À medida que a ameaça ao Pantanal foi sendo contida, Glenn passou a se envolver em diversas lutas contra a contrução de barragens e pelos direitos das populações atingidas por barragens, sobretudo na região dos rios Tocantins e Tapajós, na Amazônia brasileira; nas bacias do Uruguai e do Paraná, no sul do Brasil, Argentina e Paraguai; e na Patagônia chilena.

Nos últimos anos, a atenção de Glenn estava voltada para impedir a construção de barragens em dois dos principais rios da Amazônia, o Madeira e o Xingu. Manobras políticas maliciosas por parte do governo brasileiro permitiram o início da construção das duas barragens no Rio Madeira. O Xingu ainda encontra-se a salvo da gigantesca barragem de Belo Monte, ao menos por ora, em boa parte graças ao trabalho de Glenn com os índios Kayapós e outros povos do Xingu, em conjunto com ONGs locais e nacionais, e com o MAB, o Movimento dos Atingidos por Barragens. Glenn coordenou a produção de dois livros que denunciam os altos custos sociais e ambientais decorrentes das barragens no Madeira e no Xingu, e os argumentos distorcidos usados para justificar sua construção.

Glenn possuía o raro talento de trabalhar lado a lado e conseguir o respeito tanto de acadêmicos e especialistas em políticas públicas, quanto de movimentos locais de camponeses e pescadores, e grupos indígenas. Ele era especialista em política energética e ambiental brasileiras, e um profundo conhecedor do ambiente político do país, seja a nível governamental quanto da sociedade civil. Sua análise política – e sagacidade – estão expostas no excelente blog que mantinha.

Glenn era repleto de contradições. Foi um menino do Brooklyn apaixonado pelo time do New York Yankees, e ao mesmo tempo ávido defensor das áreas virgens; um homem gentil e amante da paz que encarava uma boa batalha política com um brilho no olhar. Um homem que era capaz de enxergar falácias de políticas a quilômetros de distância, mas mesmo assim, e todos que o conheceram podem confirmar, sabia fazer rodeios quando preciso.

Entre as paixões de Glenn, além de sua família e da Amazônia, estavam fazer sua própria cerveja; seus cachorros; cozinhar e degustar boa comida (sobretudo da culinária tailandesa e brasileira); cinema (em especial os filmes de Hitchcock); beisebol e futebol; e a música, sobretudo a de Bob Dylan e Grateful Dead. Glenn adorava uma boa festa e animou muitas delas cantando e tocando violão.

Glenn and baby Gabo
Glenn and baby Gabo
Glenn e Selma têm um filho de sete anos, Gabriel. Gabo era a maior alegria da vida de Glenn, e nos últimos anos serviu de inspiração a seu trabalho apaixonado em defesa do meio ambiente. A primeira coisa que Glenn fazia quando chegava em nosso escritório em Berkeley era mostrar a todos as fotos mais recentes de Gabo.

Glenn era a alma da International Rivers. Ele deixa um grande vazio em nossa organização e no movimento internacional de defesa dos rios. Sentiremos saudades de suas canções (muitas delas de cortar o coração) ressoando pelo esritório durante suas visitas a Berkeley; seu humor irreverente nas reuniões mais difíceis; sua energia infinda; sua personalidade agitada e contagiante. Nós celebraremos e prestaremos homenagem a sua vida com um renovado espírito de luta pelos rios da Amazônia e de todo o mundo - e com uma bela festa.

Assim como Selma e Gabriel, ficamos muito gratos por todo o apoio e carinho que
recebemos dos inúmeros amigos de Glenn mundo afora. Em breve informaremos dos nossos planos para as homenagens a Glenn.

Patrick McCully, em nome de toda equipe e do conselho da International Rivers

More information: 
  • A fund is being set up for Glenn and Selma's son Gabriel.

Checks should be made out to:
Selma Barros de Oliveira

and mailed to:
Selma Barros de Oliveira
c/o International Rivers
2150 Allston Way, Suite 300
Berkeley, CA 94704


View Glenn's latest film, Tapajós: A Cry From the Heart of the Amazon

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