Bacia do Zambeze dependente de barragens não está preparada para as Mudanças Climáticas

Date: 
Tuesday, September 18, 2012

Novo relatório documenta os perigos da abordagem “negócio acima de tudo”

Um estudo aprofundado adverte que as novas barragens, assim como as  propostas  no maior rio da África Austral não estão suficientemente preparadas para resistir aos choques das mudanças climáticas. O resultado poderá ser barragens economicamente não viáveis,  com um desempenho abaixo do esperado face às secas mais extremas, e  que podem também constituir um perigo pois não foram projectadas para lidar com cheias cada vez mais destrutivas.

Actualmente, estão a ser propostos 13 000 megawatts de grandes hidroeléctricas para o Zambeze e seus afluentes. O relatório revela que as hidroeléctricas já existentes e as que foram propostas não estão a ser adequadamente avaliadas em relação aos riscos da variabilidade hidrológica natural (que é extremamente elevada no Zambeze), e muito menos em relação aos riscos inerentes às mudanças climáticas.

O Brasil está envolvido na construcção de pelo menos uma grande barragem no Rio Zambeze. Foi concedido à Camargo Corrêa a construcção e operacionalização da barragem de Mphanda Nkuwa, um projecto onde os riscos climáticos não foram avaliados.

O Dr. Richard Beilfuss – um hidrólogo de renome com uma vasta experiência em assuntos relacionados com o Zambeze – fez uma avaliação dos riscos hidrológicos para as hidroeléctricas da Bacia. O quarto maior rio de África irá, no geral enfrentar, secas piores e cheias mais extremas. As barragens que estão actualmente a ser propostas e construídas serão negativamente afectadas, e o planeamento energético para a bacia não está a ter em consideração medidas sérias para enfrentar estas enormes incertezas hidrológicas.

“Garantir a segurança energética e hídrica na bacia do Rio Zambeze para o futuro, exigirá novas maneiras de pensar em relação ao desenvolvimento da bacia hidrográfica,” afirma o Dr. Beilfuss. “Devemos evitar investir biliões de dólares em projectos que podem vir a ser elefantes brancos."

As principais conclusões do relatório descrevem uma região que caminha em direcção a um precipício hidrológico:

  • Segundo o Painel Intergovernamental das Mudanças Climáticas, a Bacia do Zambeze exibe os piores potenciais efeitos das mudanças climáticas, quando comparada às 11 principais bacias hidrográficas da África Subsaariana, e vai enfrentar a redução mais substancial da precipitação e de escoamento. Vários estudos estimam que a precipitação ao longo da Bacia vai diminuir na ordem dos 10-15%.

  • A Bacia irá , provavelmente, sofrer um aquecimento significativo e maiores taxas de evaporação no próximo século. Uma vez que as grandes albufeiras apresentamuma maior evaporação que os rios naturais, as grandes barragens podem piorar os défices locais de água (e reduzir a quantidade de água disponível para a energia hídrica). Actualmente, mais de 11% da média anual de escoamento do Zambeze é,, perdido através da evaporação a partir das albufeiras das grandes hidroeléctricas. Estas perdas de água aumentam o risco de insuficiência na produção de energia, e afectam significativamente as funções dos ecossistemas a jusante.

  • Os planos para dois dos maiores projectos de barragens para o Zambeze, as barragens de Batoka Gorge e de Mphanda Nkuwa, são baseados em arquivos hidrológicos históricos e não foram avaliados em relação aos riscos associados à redução do fluxo anual  médio e de ciclos mais extremos de cheias e secas. Tendo em conta os futuros cenários climáticos, é improvável que estas estações hidroeléctricas, baseadas em registos de fluxos do último século, forneçam os serviços esperados durante o seus tempo de funcionamento.

  • A ocorrência de cheias mais extremas e frequentes ameaça a estabilidade e segurança do funcionamento das grandes barragens. Os eventos de cheias extremas, característica natural do sistema do Rio Zambeze, têm causado mais prejuízos a jusante desde a construção das grandes barragens. Se as barragens são projectadas abaixo do suposto para grandes cheias, o resultado poderá ser graves riscos de segurança para milhões de pessoas que vivem na bacia.

  • O Rio Zambeze já se encontra altamente modificado devido ás grandes  hidroeléctricas, o que tem vindo a alterar profundamente as condições hidrológicas que são de extrema importaância para os meios de subsistência a jusante e para a preservação da biodiversidade. Os bens e serviços ecológicos fornecidos pelo Zambeze, essenciais para permitir que as sociedades se adaptem às mudanças climáticas, estão sob grave ameaça. Um estudo económico recente estimou que o valor total anual dos serviços providenciados pelos ecossistemas dependentes do rio para a planície de inundação do Zambeze (o Delta do Zambeze) varia entre 930 milhões a 1.6 biliões de Dolares Norte Americanos. O valor económico da água dos serviços providenciados pelos ecossistemas a jusante excede o valor da água usada estritamente para a produção de energia hídrica. Estes serviços não estão a ser devidamente valorizados no planeamento de grandes barragens na Bacia. 

 

Rudo Sanyanga, o Directora do Programa para África da International Rivers diz: “As grandes  hidroeléctricas representam não apenas riscos económicos mas também riscos de adaptação. O continente africano tem sido identificado como o continente em ‘maior risco’ em relação às mudanças climáticas. Uma adaptação bem sucedida iraá exigir novas formas de pensar sobre os recursos hídricos. Nós devemos actuar agora de modo a proteger os nossos rios como fontes de meios de subsistência e segurança alimentar.”

O relatório recomenda uma série de medidas para enfrentar a tempestade de mudanças hidrológicas que se aproxima, incluindo mudanças no modo como as barragens são planeadas e operadas (resumido num comunicado de imprensa de 2 páginas).

“Os responsáveis pela elaboração do plano de energia e os governos regionais devem reconhecer estes riscos hidrológicos e tomar medidas para melhorar o planeamento e gestão das grandes barragens na Bacia,” afirma Beilfuss. “No mínimo, as barragens existentes e as futuras devem ser submetidas a uma análise profunda em relação aos riscos climáticos.”

O relatório inclui 11 recomendações de redução dos riscos climáticos para as barragens já existentes e propostas.

Media contacts: 
  • Dr. Richard Beilfuss (in Wisconsin, US): Office: +608-356-9462, ext. 143; Mob: +608-320-5250
  • Rudo Sanyanga, Africa Program Director, International Rivers (in Pretoria, South Africa): Office: +27 (0) 12-342-8309, Mob: +277 684-2-3874
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