Discurso do Pres. Lula no Ato por Belo Monte

Discurso do Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, no Ato por Belo Monte e pelo desenvolvimento da região do Xingu


Altamira-PA, 22 de junho de 2010
 
             
            Eu, companheiros e companheiras, aprendi, aprendi, ao longo da minha vida, a fazer política e aprendi a entender o comportamento das pessoas. Não é possível que a gente não tenha em conta... e eu acho importante a imprensa registrar o ato democrático que nós estamos fazendo aqui. Certamente, certamente meia dúzia de jovens bem-intencionados, mas certamente com intenções, intenções, talvez não pensando em Belo Monte... Se eles tivessem paciência para ouvir, eles aprenderiam o que eu já aprendi nesse tempo todo.
Quando eu tinha a idade deles, eu ia para o Paraná fazer manifestações contra a construção de Itaipu, e naquele tempo, naquele tempo diziam, diziam que nós não podíamos construir Itaipu porque Itaipu seria utilizada para inundar a Argentina. A Argentina, naquela época, chegou a ameaçar o Brasil com a construção de uma bomba atômica, com medo de que Itaipu fosse para inundar Buenos Aires. Os contrários - como esses meninos -, por falta de informação, diziam que ia ter terremoto, diziam que o lago de Itaipu iria provocar terremoto na região de Itaipu. Mas diziam mais: eles diziam que Itaipu iria mudar todo o clima da região. Mas diziam mais: diziam que a água iria vazar por baixo da terra e que iria mudar o eixo da Terra, a Terra não ia mais... E foram com outros argumentos: o peso... não é verdade? O peso da água iria mudar o eixo da Terra.
            É por essas fantasias construídas que a gente não tem que ter medo de debater. É por essas fantasias construídas que nós precisamos dizer: o estado do Pará e a região do Xingu não podem prescindir de Belo Monte, não tem como prescindir.
            Eu sei que muita gente bem-intencionada, muita gente bem-intencionada não quer é que se repitam os erros cometidos neste país, ao longo da construção de hidrelétricas. Nós nunca mais vamos querer uma hidrelétrica que cometa o crime de insanidade que foi Balbina, no estado do Amazonas. Nós não queremos repetir Tucuruí, nós queremos fazer alguma coisa nova.
            Então, se eu pudesse dar um conselho aos companheiros e companheiras que são contra: em vez de ser contra, proponha alternativa para utilizar os R$ 4 bilhões que nós estamos disponibilizando no processo, para cuidar da questão social e ambiental. Vamos discutir como é que a gente vai utilizar esses 4 bilhões, para melhorar a vida do povo ribeirinho, para melhorar a vida dos índios, para melhorar a vida dos agricultores. São R$ 4 bilhões, dinheiro esse que o Pará nunca viu, para cuidar das questões sociais.
            Eu posso dizer para vocês companheiros: pode ter alguém que goste mais do Brasil igual a mim [do Brasil igual a mim], eu duvido que alguém goste mais do que eu, eu duvido que alguém queira preservar o meio ambiente mais do que eu quero preservar. Agora, não sou ignorante de saber que o Brasil tem um potencial de produzir mais de 164 mil megawatts de energia dos nossos rios, e nós vamos utilizar a energia mais limpa que nós produzimos e vamos cuidar de preservar o meio ambiente.
            E, aqui, é um compromisso meu: olha, passem metade do dia gritando contra, e passem metade colocando a energia positiva de vocês para pensar alguma coisa importante. Certamente, certamente, eles ficaram encantados com o americano que veio aqui. Eles deveriam ir lá tirar o petróleo do Golfo do México, que está poluindo o oceano.
            Bom, meus companheiros e companheiras, eu não estarei mais presidente da República daqui a seis meses. Mas estarei brasileiro, estarei paraense, estarei xinguense, estarei altamirense e estarei fiscalizando a construção dessa hidrelétrica porque, porque depois de 30 anos, nós conseguimos tirá-la do papel e fazer com que esta região aqui deixe de ser exportadora de alumínio, de minério de ferro, e esta região passe a ser uma região industrializada, que possa gerar emprego e renda para que as pessoas possam viver dignamente.
            Meus companheiros, eu vou sair daqui e vou para Marabá. Vou anunciar o começo da terraplanagem da primeira siderúrgica no estado do Pará, para utilizar a energia produzida em Belo Monte. E em vez de exportar minério de ferro e comprar chips, a gente vai exportar produto com valor agregado para que essa meninada tão jovem possa trabalhar na siderúrgica e ganhar o pão de cada dia.
            Um abraço, companheiros, e até a inauguração da hidrelétrica, se Deus quiser.