O Financiamento Público de Belo Monte: Arriscado e Quente Demais

By: 
Zachary Hurwitz
Aluminum smelting
Aluminum smelting

(Aguirre/Switkes/Archive)Em uma recente entrevista com o Financial Times, o Ministro de Finanças Guido Mantega afirmou que a economia brasileira está indo tão bem apesar da crise econômica global que o governo deve limitar os gastos públicos, a fim de evitar o "superaquecimento". No entanto, a despesa pública referente à hidrelétrica e mineração é quente demais, e arrisca queimar um buraco através da imagem pública do Brasil como líder em questões de mudança climática.

O governo brasileiro pretende financiar até 80% do preço de Belo Monte, de USD $ 12-16 bilhões, utilizando os fundos públicos. Para fazer isso, o governo está se movendo capital dos fundos de pensão Funcef, através do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço da Caixa Econômica Federal; o Previ, que prevê pensões para os trabalhadores do Banco de Brasil, e o Petros, que gere as pensões dos trabalhadores do Petrobras. Além disso, eles estão injetando no BNDES grandes quantias de dinheiro do Fundo de Amparo ao Trabalhador e do Tesouro Nacional.

Por que o governo está subsidiando um projeto de infra-estrutura "privado" com fundos que deveriam se destinar ao bem público? É porque os investidores privados são muito cautelosos com os riscos incrivelmente altos de Belo Monte. Devido à sazonalidade extrema do rio Xingu, a barragem só irá produzir 10% da sua capacidade durante os meses secos do verão na Amazônia. Isso é um grande risco para um projeto tão caro. Depois, há o risco geológico, uma grande armadilha para grandes projetos de barragens. Ninguém sabe como a terra reagirá aos dois canais maciços de 75 quilômetros por 500 metros cada um a ser escavados no chão para desviar a água do reservatório principal para o reservatório secundário, porque os dados geológicos estão faltando no relatório de impactos ambientais.  Enquanto isso, a imagem pública dos bancos e das empresas envolvidos na construção de Belo Monte será fortemente prejudicada desde que o projeto tenha ganhado notoriedade internacional por seus impactos destrutivos aos povos indígenas.

Senator Flexa Ribeiro of Pará, President of the Senate Commission on Belo Monte and accused of corruption
Senator Flexa Ribeiro of Pará, President of the Senate Commission on Belo Monte and accused of corruption
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Para tentar acalmar os nervos dos investidores, o governo formou uma comissão do Senado para "vigiar o Belo Monte" durante a sua execução. No entanto, 7 dos 10 senadores da comissão têm relações fortes com a indústria e enfrentam acusações de corrupção ligadas a projetos de desenvolvimento anteriores. Uma equipe de observação feita por cientistas peritos independentes é absolutamente necessária.

Outra razão que explica a quantia do financiamento público é que as empresas de mineração e energia estavam acostumados a consumir grandes quantidades de energia hidrelétrica barata da Amazônia para prover de energia às suas operações de mineração, como ferro, cobre, ouro, e bauxita, o que fornece a matéria-prima para o alumínio.  A barragem de Tucuruí foi construída nos anos '80 para prover de energia à maior mina de ferro do mundo, Carajás, operada pela gigante da mineração Vale. E hoje não tem mudado nada.  25% de toda a eletricidade do Brasil é consumida por oito companhias de mineração e energia: Alcoa, ArcelorMittal, Camargo Corrêa Energia, CSN, Gerdau, Samarco, Vale e Votorantim.  E algumas destas mesmas empresas querem a energia de Belo Monte para expandir suas operações de extração.

No entanto, devido à crise econômica global, a demanda por metais tem caído em os E.U. e na Europa, a especulação no mercado à vista tem voltado instáveis os preços de metais do mundo, e não é mais tão barato para produzir alumínio no Brasil como era antes. Vale recentemente vendeu suas operações de fabricação de alumínio em Alumar, Alubrás e Paragominas para a empresa estatal norueguês Norsk Hydro. Com a venda, a Vale vai extrair a bauxita e vendê-la a Norsk Hydro para a produção de alumínio para latas e carros. O governo norueguês, entretanto, é também o maior doador para Fundo da Amazônia do BNDES, o fundo de carbono maciço do banco que recebe doações diretas em troca de financiar esforços de conservação. O que dá uma mão, a outra tira; enquanto a Noruega adquire credibilidade verde doando para o Fundo da Amazônia, vai investindo na produção de alumínio em algumas das minas mais sujas do mundo.

Sejamos claros: a história da Amazônia mostra que onde vão grandes barragens hidroeléctricas, acompanham grandes operações de mineração. Com Belo Monte, a Amazônia olhará muito mais como as areias betuminosas de Alberta que o mar de floresta e água doce que tantos apreciam por ser fonte da vida.  E com a possível aprovação de uma lei que permitiria as hidreléctricas e a mineração em terras indígenas e áreas de conservação, Belo Monte será apenas o primeiro nesta nova fase de destruição da Amazônia.

Está certo, a economia brasileira é quente sim, e demais. E por causa do gasto público do Brasil em barragens e na expansão da mineração, os riscos para a Amazônia e para o clima vão só ficar mais quentes ainda.